sexta-feira, 4 de abril de 2014



Fernando Liguori


Existem cinco forças primárias conhecidas como pañca-prāṇa. Essas forças operam no corpo físico a todo instante. Prāṇa-śakti, a força que tudo sustenta, assume a forma destes cinco campos de força prânica para capacitar o corpo a realizar suas várias funções. Assim, o prāṇa é experienciado diferentemente em diferentes partes do corpo simultaneamente. Essas cinco forças agem em níveis sutis, influenciando e sendo influenciadas pela mente e a consciência. Os sábios de outrora identificaram estes cinco prāṇas como: prāṇa, apāna, samāna, udāna e vyāna. Eles são conhecidos também como prāṇa-vāyus. O termo vāyu é derivado da raiz , significando movimento ou aquilo que flui. Portanto, os prāṇa-vāyus representam a qualidade inerente do movimento que energiza cada ação da secreção do suco gástrico ao movimento da mão. Eles fluem através de todos os elementos, órgãos e mente.

Os cinco prāṇas são responsáveis pela criação e existência em um nível individual. Nos seres humanos eles são criados durante os primeiros quatro meses de desenvolvimento do feto no útero. Durante o primeiro e segundo mês, o feto vive do prāṇa da mãe. No terceiro mês o feto desenvolve os cinco prāṇas e no quarto mês eles se tornam ativos para formação da estrutura corporal e a alma entra no novo corpo como o resultado da atividade prânica.

Os cinco prāṇas mantêm o equilíbrio entre os níveis físico e mental. Sua localização física é relevante no que concerne as funções do corpo. Contudo, suas funções são mais homogenias nos níveis mais sutis da mente e consciência, onde suas distinções são qualitativas ao invés de físicas. Neste contexto, os textos yogīs muitas vezes diferem em suas descrições dos cinco prāṇas e sua localização. Isso não deve confundir a mente do praticante. Lembre-se que o corpo de energia somente é compreendido verdadeiramente no campo da experiência onde os limites não são tão estreitos. A chave é continuar experimentando.

1. Śthūla-prāṇa

Nível físico: Prāṇa é o primeiro dos pañca-prāṇas. Ele é conhecido como śthūla (grosso, denso, físico) para diferenciá-lo da força vital toda-abrangente e universal (mahā-prāṇa). Śthūla-prāṇa é a corrente de energia localizada na região torácica entre o diafragma e a base do pescoço. É o centro da circulação da energia de vida. Essa força sustenta o coração e os pulmões, bem como todas as funções na região peitoral tais como a respiração, deglutição e circulação sanguínea. Quando o ciclo respiratório ou as batidas do coração aumentam devido ao trabalho extremo etc., o nível do śthūla-prāṇa também aumenta. Essa força é tão essencial que se sua atividade for obstruída ou interrompida por qualquer razão, a morte pode ocorrer.

Śthūla-prāṇa é experienciado na forma de partículas de luz se movendo para cima na região do peito. Entre os cinco prāṇas, ele ocupa uma posição fundamental, controlando todos os outros quatro. A prática de prāṇāyāma, particularmente, aumenta o volume deste prāṇa e evita a constrição de sangue nas artérias ao redor do coração. Quando śthūla-prāṇa é forte, o coração não se enfraquece, a pessoa não sofre de pressão alta ou baixa e vive longamente.

Nível sutil: No nível da mente, śthūla-prāṇa é responsável pela assimilação de impressões e idéias. Energiza todos os kośas e está ativo todo o tempo. Permeia a região do anāhata ao viśuddhi-cakra. Quando a força de śthūla-prāṇa é poderosa e flui ininterruptamente, qualidades genuínas do coração tais como força, coragem, generosidade e dignidade se manifestam. Este prāṇa é a energia pela qual a mente unidirecionada e o conhecimento intuitivo podem ser experienciados. Ele sustenta a energia inteligente da alma que habita o coração. Pela intensificação deste prāṇa o yogī alcança a alma. A Brihandaranyaka-upaniṣad (3: 7: 16) diz:

A inteligência da alma está localizada no prāṇa, dentro do prāṇa, permeando o prāṇa, mesmo que o não-inteligente esteja inconsciente disso. Prāṇa é o mestre do corpo, o controlando a partir de dentro. Assim a alma se manifesta, sim, ela é imutável, indestrutível e imortal.

Prāṇa é o guia e o meio para realização da alma. Quando meditamos no centro do coração a identificação com o prāṇa é mais intensa; podemos sentir como se nos transformássemos no prāṇa.

Indicações de desequilíbrio: Quando os caminhos por onde o prāṇa percorre não estão limpos, o coração e os pulmões não funcionam adequadamente, ocorrendo a baixa assimilação de oxigênio. Em um nível mental, a pessoa não é capaz de digerir impressões assimiladas pelos sentidos ou manter um centro positivo de consciência. Existe a dificuldade de se concentrar ou acessar o conhecimento intuitivo.

2. Apāna

Nível físico: Apāna é o segundo prāṇa que opera na região pélvica entre o umbigo e o períneo. Ele sustenta as funções dos rins, bexiga, intestinos, órgãos excretórios e reprodutivos. É responsável pela expulsão de gases, fezes, urina, sêmen e óvulos. Ele nutre o feto e o expele do útero na ocasião do nascimento. Apāna é experienciado na forma de partículas de luz se movendo para baixo do umbigo ao períneo. Devido a presença dos elementos terra e água nessa região, apāna é percebido como uma força pesada.

Nível sutil: Apāna traz energia para baixo através dos kośas. Mūlādhāra e swādhisṭhāna-cakras estão sob o domínio de apāna. Conduzindo, controlando e realizando a força de apāna estes cakras são trabalhados. A força da kuṇḍalinī reside nos domínios de apāna, que auxilia em seu despertar, enquanto prāṇa auxilia em sua ascensão. O controle e condução de apāna são as ferramentas de controle da energia sexual e a proficiência na prática de brahmacarya. Em um nível mental, apāna remove pensamentos e emoções negativas.

Indicações de desequilíbrio: Quando apāna está em desequilíbrio, ocorre a deficiência no processo de eliminação, sentimento de peso, depressão e negatividade.

3. Samāna

Nível físico: Samāna é o terceiro prāṇa. Ele opera entre o umbigo e o diafragma. A palavra samāna deriva da raiz saman, que significa igual, uniforme, constante ou equilibrado. Ele age como agente equilibrador entre as duas forças opostas: prāṇa e apāna. Samāna ativa e sustenta os órgãos digestivos e suas secreções, bem como é responsável pelo metabolismo. Está associado com o fogo digestivo, o jatharagni. Samāna é experienciado com movimentos laterais de luz, como o movimento oscilante de um pêndulo, da direita para esquerda e da esquerda para direita. É responsável pela experiência dinâmica e vital do maṇipūra-cakra.

Existem seis órgãos digestivos associados a samāna: fígado, estômago, duodeno, baço, intestino grosso e delgado. O corpo recebe seu suporte nutritivo de vida e saúde através do trabalho de samāna. O aspecto distintivo de samāna é que embora ele seja uma força singular, é capaz de atuar diferentemente em diferentes órgãos.

Nível sutil: Samāna mantém a coesão e o equilíbrio entre os kośas. Ele é sutil em coparação a apāna e denso em coparação a prāṇa. Assim como auxilia na digestão dos alimentos, samāna também é responsável por digerir o construto mental.

Indicações de desequilíbrio: Samāna, o equilibrador, é perturbado quando a paz mental e a harmonia se desequilibram. Seja lá onde aja distúrbio no corpo e nos sentidos, samāna se agita e causa desordens no sistema. Fraca assimilação dos alimentos é resultado do desequilíbrio em samāna, causando o aumento de toxinas no corpo bem como bloqueios psicológicos.

4. Udāna

Nível físico: Udāna é a quarta manifestação prânica que opera nas extremidades: braços, pernas, pescoço e cabeça. Este prāṇa é responsável por todos os órgãos sensoriais (jñānendriyas) e os órgãos de ação (karmendriyas). Ele coordena e controla os movimentos das pernas, braços e pescoço e dirige as atividades do cérebro e órgãos sensoriais situados na região da cabeça: Os olhos e a visão, os ouvidos e a audição, a língua e o paladar, o nariz e o olfato, a pele e o tato. Os órgãos de ação controlados por udāna são três: mãos, pés e a fala. Os outros dois, os órgãos excretores e reprodutores estão sob o controle de apāna.

Udāna auxilia o prāṇa no processo de inspiração e expiração, assimilação de comida e bebida, bem como o vômito, o escarro e a deglutição da saliva. Todas as funções da garganta e da boca são mantidas por udāna e sua influência se inicia na região do viśuddhi-cakra. Ele também sustenta a conexão prânica entre o coração e o cérebro. Ainda, udāna auxilia os prāṇas menores (upa-prāṇas) em suas atividades devido a sua proximidade a eles. Todos os cinco prāṇas menores funcionam devido a energia derivada de udāna.

Udāna sustenta os órgãos dos sentidos e suas atividades. A atividade dos sentidos mantém udāna ativo, pois ele funciona em conscordância com suas necessidades. A força de udāna mantém o corpo de pé; ele é responsável pelas atividades anti-gravitacionais do corpo, particularmente pelas mãos e pés.

Nível sutil: Udāna permite a execução de trabalhos mentais positivos. É responsável pela fala doce, melodiosa e impressiva. Possibilita o intercâmbio do prāṇa entre a cabeça e o coração, estabilizando portanto o contato entre os corpos causal e sutil. Sustenta a relação entre os corpos grosso, sutil e causal. Udāna é experienciado como um fluxo espiral de luz descendo pelos braços e pernas e subindo através da cabeça.

Udāna permeia o ājñā, bindu e sahasrāra-cakras. Ele traz energia aos kośas do nível mais grosseiro ao mais sutil. Quando o yogī fixa sua atenção em udāna, se torna livre da fome, sede, sono e preguiça. A atividade de udāna se torna extremamente lenta e sutil durante a meditação e o samādhi.

Indicações de desequilíbrio: Udāna irregular causa problemas respiratórios, ineficiência em trabalhos físicos e mentais, inabilidade em pensar claramente ou expressar a si mesmo, fala não coordenada, vontade fraca e falta de alegria.

5. Vyāna

Nível físico: Vyāna, o quinto prāna, permeia todo o corpo e age como um reservatório de energia. Ele auxilia todos os outros prāṇas quando eles requerem uma carga extra. Quando alguém se sente fatigado, extremamente cansado, uma torrente de energia surge, capacitando-o a continuar seu trabalho. Essa torrente extra de energia ou segundo alento, como mencionam as escrituras, é a experiência de vyāna. Ele também regula e coordena todos os movimentos musculares, aumenta o envio dos impulsos elétricos a diferentes partes do corpo e causa o fluxo de perspiração e arrepios. Vyāna faz com que todos os prāṇas, maiores e menores, funcionem adequadamente.

Nível sutil: Vyāna comanda a circulação energética através de todos os cinco kośas e é responsável por sua diferenciação. Ele permeia todo espaço corporal e atua como veículo da consciência no corpo. Quando excitado, devido a sua velocidade de locomoção, agita a mente. Nestas condições, a velocidade da consciência também é perturbada.

Indicações de desequilíbrio: Quando vyāna, a energia expansiva, está desequilibrada, ocorre falta de coordenação motora, tremores, inabilidade em estar com as pessoas e mente errática.

Densidade e cor dos prāṇas

Os cinco prāṇas possuem diversas densidades de campos iônicos. Udāna é o menos denso, seguido por prāṇa, samāna e apāna. Vyāna, que flui por todo o corpo, possui uma densidade proporcional a todos os outros. Os campos iônicos dos prāṇas podem ser visualizados como um turbilhão de nuvens espiraladas de cores diferentes, capazes de se expandir e contrair. As cores são criadas devido à emissão dos fótons, quando os elétrons mudam seu nível de energia das freqüências superiores para as mais baixas. A Amṛtanāda-upaniṣad (v. 34-37) descreve as cores dos diferentes prāṇas:

Prāṇa [é dito ser] o sangue vermelho, a cor do rubi ou coral; apāna é da cor de indra-gopa [inseto de corbranca e vermelho]; samāna está entre a cor do leite puro e do cristal [oleoso e brilhante]; udāna é apandara [branco pálido]; e vyāna é da cor do archis [raio de luz].

União de prāṇa e apāna

Dos cinco prāṇas, os dois com maior influência são prāṇa e apāna. A Śivasaṃhitā (III: 6) declara:

Destes dez [pañca e upa-prāṇas] os cinco primeiros são os dominantes; mesmo entre estes, prāṇa e apāna são os mais elevados.

Prāṇa e apāna são duas forças opostas no corpo físico. Prāṇa se move para cima a partir do abdômen e apāna para baixo. Sob a influência de apāna, a consciência é puxada para o mūlādhāra-cakra, associado ao elemento terra, o nível mais denso de manifestação. Dalí ela gera desejos e interage com o mundo. Sob a influência de prāṇa, a consciência é empurrada para cima até o sahasrāra-cakra, associado ao sutil elemento éter e a dimensão imanifesta, onde ela experiência sua natureza mais elevada.

Na prática do Yoga a direção ou movimento de prāṇa e apāna muda. O fluxo ascendente de prāṇa é dirigido para baixo e o fluxo descendente de apāna é dirigido para cima. Dessa maneira um se direciona ao encontro do outro na região de samāna. Neste ponto de encontro à energia conhecida como yogagni (o fogo do Yoga) ergue-se. Quando estes dois aspectos da vida, o interior e o exterior, o mundano e o espiritual se unem, a kuṇḍalinī desperta.

No quarto capítulo da Bhagavadgītā (IV: 29), Śrī Kṛṣṇa aconselha Arjuna a unir prāṇa com apāna:

Apāna é absorvido por prāṇa [por alguns] e prāṇa é absorvido por apāna [por outros]. Restringindo o curso de prāṇa e apāna [o yogī se] ocupa completamente do prāṇāyāma.

A união de prāṇa com apāna ou apāna com prāṇa ou a suspensão de ambos, pode ser conquistada pela prática do Yoga. Existem inúmeras práticas para essa finalidade. Quando se pratica siddhāsana e o ar é mantido na região de samāna, prāṇa e apāna se unem nessa região. As práticas de kriyā-yoga têm esse mesmo efeito. Quando os três bandhas são praticados, jālaṃdhara-bandha impede que prāṇa suba, mūla-bandha impede que apāna desça e uḍḍīyāna-bandha cria um processo de sucção que afeta o comportamento de ambos prāṇa e apāna, fazendo com que eles se encontrem na região de samāna. A execução de nauli, um dos mais importantes ṣaṭ-karmāṇi, também cria a união entre prāṇa e apāna. Quando prāṇāyāma é executado com inspiração, expiração e retenção, a união de prāṇa e apāna ocorre no ājñā-cakra.

A união de prāṇa e apāna é um dos principais objetivos do Yoga. Enquanto o praticante não for capaz de canalizar essas duas forças, ele ainda estará sob a influência da dualidade e sua mente permanecerá dissipada. A Yoga-chudamani-upaniṣad (v. 27) diz:

Assim como uma bola sobe e desce pelo arremesso das mãos, similarmente, a alma individual sobe e desce pelo movimento de prāṇa e apāna e, portanto, não permanece estável.

Os doṣas, tejas e ojas

Os cinco prāṇas são formas de vāta, mas todos os doṣas dependem deles para seu correto funcionamento, seja por expressão ou eliminação. Udāna se move circularmente pelo corpo para eliminar kapha ou muco. Isso ocorre através da tosse, expectoração ou vômito, que inclui terapia emética através do processo de pañca-karma. Apāna se move para baixo para eliminar pitta (bile ou calor tóxico) através da purgação, outro método de pañca-karma.

Samāna aumenta o agni, o fogo digestivo, que auxilia no equilíbrio dos doṣas. Essa é a base da shamana, a metodologia pacificadora da Āyurveda. Prāṇa, pela assimilação de nutrientes através da boca e dos sentidos, acalma os doṣas, particularmente o vāta. Isso faz parte da terapia de tonificação (brimhana). Vyāna, permeando todo o corpo, promove o suor, provocando a expulsão de toxinas através da pele. Isso ajuda a abrir os canais para reabsorção destas toxinas de volta ao trato digestivo para sua eliminação permanente.

Os cinco prāṇas possuem conexão com tejas e ojas. Apāna governa ojas, que se desenvolve através do tecido reprodutor. Samāna controla tejas não somente como o fogo digestivo, mas todos os outros fogos no corpo e na mente.

A doença aparece primordialmente no nível de prāṇa na região da cabeça, com a febre. Ela se move para região de udāna como a garganta inflamada. Então desce a região de vyāna como infecção nos pulmões. Problemas digestivos e metabólicos ocorrem como patogênese na medida em que se move para região de samāna no intestino delgado e fígado. Finalmente, as toxinas entram na região de apāna nos rins e órgãos reprodutores onde elas criam debilidade a longo prazo.

Níveis profundos de prāṇa

1. Prāṇa e respiração

Prāṇa existe no nível do prāṇamaya-kośa, sua esfera nativa. Ele influencia o corpo físico primordialmente através do processo respiratório, a principal forma de atividade prânica no corpo. Neste sentido prāṇa governa a inspiração. Samāna governa a absorção do oxigênio que ocorre durante a retenção do ar. Vyāna governa sua circulação. Apāna governa a expiração e a expulsão do dióxido de carbono. Udāna governa a liberação da energia positiva através da respiração, incluindo a fala que ocorre durante o processo do ar que se move para fora. Isso será discutido detalhadamente no Módulo V.

2. Prāṇa e a mente

A mente também possui sua própria energia ou prāṇa. Ela é derivada principalmente da absorção de impressões sensoriais e se reflete em nossas expressões através dos membros e da fala.

Prāṇa, em um nível psicológico, governa nossa receptividade a fontes mentais de alimentação, sensações, emoções e idéias. Ele provê energia, vitalidade e velocidade a mente. Quando perturbado, prāṇa cria desejos equivocados e insaciáveis. Nos tornamos mal orientados, mal dirigidos e erroneamente motivados. Em outras palavras, perdemos tempo correndo atrás de frívolos objetivos externos ao invés de investirmos tempo seguindo nossa própria natureza interior.

Apāna, em um nível psicológico, governa nossa habilidade de eliminar pensamentos e emoções negativas, que se tornam toxinas na mente. Ele nos provê desapego e imparcialidade, auxiliando no cultivo de draṣta-bhava, atitude de testemunha perante os acontecimentos da vida, atuando assim como ama função imunológica da mente. Quando perturbado, apāna provoca medo, síndrome do pânico e depressão. Nos envolvemos com experiências indigestas que nos afligem e nos puxam para baixo, causando nossa queda nas situações da vida, nos transformando em pessoas reprimidas, sufocadas e fracas.

Samāna facilita a digestão mental, provendo nutrição e contentamento a mente. Nos provê discriminação, concentração e equilíbrio. Através dele podemos conquistar aquilo que ardentemente desejamos em nossas mentes e corações. Quando perturbado, samāna provoca apego e ganância. Nos transformamos em pessoas retraídas, o que leva ao comportamente, crenças e emoções equivocadas.

Vyāna promove a circulação mental, o fluxo livre de idéias e emoções. Provê compreensão, agilidade e independência a mente. Quando perturbado, vyāna provoca separação, aversão e alienação. Nos tornamos incapazes de nos unir a outras pessoas ou nos manter conectados aquilo que queremos ou ao que fazemos. Expandimos excessivamente nossas energias ao ponto delas se dissiparem e se desintegrarem.

Udāna promove energia mental positiva, vontade e força. Nos provê alegria e entusiasmo, auxiliando no despertar de nossos potenciais criativos e espirituais mais elevados. Quando perturbado, udāna provoca orgulho, teimosia e arrogância. Nos tornamos pessoas sem estrutura, perdemos a conexão com nossas raízes.

Prāṇa, portanto, é nossa energia positiva propulsora na vida, nossa habilidade de crescer e de nos desenvolver. Apāna é nossa capacidade de retrair a energia e de eliminar a sugeira de nós mesmos. Vyāna é nossa capacidade de auto-expansão, enquanto samāna é nossa habilidade de manter e contrair a energia. Udāna é nossa habilidade de ascensão, de crescimento. Os cinco prāṇas são apenas cinco expressões de nossa energia. Aprendendo a utilizá-los, teremos domínio sobre todos os aspectos de nossa vida.

Aspectos espirituais dos prāṇas

Os prāṇas possuem muitas ações especiais nas práticas yogīs. Em um nível espiritual, samāna governa o espaço dentro do coração no qual o Ser, o ātman, reside como o fogo das sete chamas. Esse espaço interno ou atmosfera é chamado de antaṛkṣa, o espaço oculto entre as coisas. Samāna regula o agni com combustível que sempre queima em nosso interior através do processo de absorção. Sem a paz ou equilíbrio promovido por samāna, não conseguimos retornar ao âmago de nosso ser ou concentrar a nossa mente. Samāna cria o unidirecionamento da mente que leva ao samādhi.

Vyāna governa o movimento do prāṇa através das nāḍīs, mantendo-as abertas, livres, limpas e sempre em funcionamento. Um caudal poderoso de vyāna é necessário para purificação das nāḍīs. Ele expande a mente ao infinito. Apāna nos protege contra entidades e experiências negativas no caminho espiritual. O prāṇa em si promove a aspiração e a motivação apropriada para o desenvolvimento espiritual.

Udāna promove o crescimento da consciência e governa seu movimento pela suṣumṇā-nāḍī. A mente se movimenta com a força de udāna, que governa os estados de sonho e sono profundo. Após a morte, ele conduz a alma aos planos astral e causal. Udāna é frequentemente citado nas escrituras como o principal prāṇa para o crescimento espiritual.

Na medida em que praticamos Yoga, os aspectos sutis destes prāṇas começam a despertar. Isso pode criar vários movimentos incomuns de energia no corpo e na mente, incluindo a ocorrência de vários movimentos espontâneos ou kriyās. Podemos sentir sensações novas de expansão da energia (vyāna), paz profunda (samāna), sentido de leveza (udāna), estabilidade e firmeza (apāna) ou apenas o aumento na vitalidade e sensitividade (prāṇa).

Os upa-prāṇas

Junto com os cinco prāṇas principais, existem cinco prāṇas menores chamados upa-prāṇas ou pañca-vāyus. Estes são: nāga, kūrma, kṛkara, devadatta e dhanaṃjaya. Estes pañca-vāyus são manifestações densas e mais limitadas de energia em comparação aos pañca-prāṇas. A Gheraṇḍasaṃhitā qualifica a diferença entre eles chamando-os de antraraṅga-vāyus (vāyus internos) e bahiraṅga-vāyus (vāyus externos). Devemos mencionar, contudo, que a maioria das escrituras cuja autoridade é comprovada utiliza a palavra vāyu como um termo genérico para se referir a todos os prāṇas. A Haṭhapradīpikā utiliza os termos vāyu e prāṇa intercambiamente através dos ślokas. A Gheraṇḍasaṃhitā se refere a eles também como os dez vāyus. A Yoga-chudamani-upaniṣad os iguala em importância. Mas é na Śivaswarodaya e na Dhyāna-bindu-upaniṣad que encontramos uma disntinção categórica na utilização dos termos pañca-prāṇa e pañca-vāyu. Nessas escrituras, a distinção na experiência do prāṇa é qualitativamente distinta.

Nāga: Este campo de atividade prânica provoca o arroto e o soluço. Quando o elemento ar (vāta) é agitado, nāga se ativa e expulsa o ar perturbado para fora através do estômago, causando disturbios ou disfunções em udāna, prāṇa e samāna. Nāga permanece inativo na medida em que a dieta e a digestão forem saudáveis. Isso significa que nāga surge a partir do desequilíbrio. Nos profundos estados meditativos, nāga não se encontra em atividade.

Kūrma: Este campo de atividade prânica provoca o piscar dos olhos e os mantém saudáveis, úmidos e protegidos. Ele nos capacita a ver todos os objetos. Os olhos brilham devido a energia de kūrma. É a energia de kūrma que faz com que as pessoas transmitam suas capacidades volitivas através do acumulo de ojas. Quando kūrma está sob controle, o yogī pode manter os olhos abertos por horas, executando trāṭaka. Embora kūrma atue em uma área pequena, possui muita força e durante a meditação ele transforma a concentração firme e profunda.

Kṛkara: Este campo prânico provoca o bocejo, a fome e a sede, assinstindo também no processo respiratório. Em desequilíbrio, provoca preguiça e letargia. Quando está sob controle, devido às práticas de Yoga, a preguiça e o sono são superados, a fome e a sede são controladas e secreções cheirosas começam a fluir na boca, causando hálito agradável e doce. O controle de kṛkara é especialmente útil durante períodos de jejum e samādhi.

Devadatta: Este campo de expressão prânica provoca o espirro e também atua no processo respiratório. Ele se ativa com odores fortes e irritantes, causando dores nas narinas e condições mais intensas. Em desequilíbrio, devadatta provoca os mais variados distúrbios respiratórios como sinuzite, rinite e outros processos alérgicos. Sob controle, devadatta nos capacita a experienciar os divinos odores.

Dhanaṃjaya: Este campo de força prânica permeia todo o corpo e está associado o sentido do tato. Ele influencia o trabalho dos músculos, artérias, veias e pele. A intumescência causada por um ferimento é uma função de dhanaṃjaya. Em pessoas tamásicas ele reforça a preguiça corporal. Dhanaṃjaya é o último prāṇa a deixar o corpo após a morte e é reponsável por sua decomposição. Como permeia todo o corpo, está intimamente associado a vyāna-vāyu e suas funções. Ambos atuam intercambiamente no corpo.

Prāṇāyāma e prāṇa-vidyā

Embora os dez prāṇas sejam indentificados separadamente, eles operam em sincronia para manter cada atividade física em sua perfeita função. Por exemplo, no processo de metabolização, prāṇa auxilia na assimilação do alimento levando-o através do esôfago; samāna facilita sua digestão; vyāna circula e distribui os nutrientes; apāna elimina o material residual e udāna leva a energia derivada do alimento a função física necessária.

A Praṣna-upaniṣad faz uma analogia entre os pañca-prāṇas e o yajña, conectando apāna, vyāna e prāṇa ao fogo do yajña, samāna ao sacerdote, a mente e os congregados e udāna ao fruto do sacrifício. O processo prânico é equivalente ao processo do yajña: energia é o alimento quando a vida é infundida. Portanto, a energia é emitida quando há a combinação de ambos. Isso significa que quando todos os prāṇas estão em equilíbrio, o corpo e a mente estão em estado de harmonia otimizada. Contudo, este não é o caso mais comum. Devido ao abuso e a má utilização dos prāṇas, a maioria das pessoas se encontram em estado de desequilíbrio.

No curso diário da vida, aflições, angústias, ansiedades e o estresse dissipam a máxima quantidade de prāṇa, exaurindo completamente os campos prânicos. Isso provoca a fatiga, depressão, má digestão, má circulação etc. Na medida em que este ciclo vicioso permanece, o corpo não possui força para andar, trabalhar ou até mesmo pensar. O menor desequilíbrio provoca transtorno nervoso. A fim de remediar este processo, os prāṇas precisam ser recarregados constantemente, dessa maneira suas funções serão otimizadas e o equilíbrio será mantido. Este é o primeiro objetivo do prāṇāyāma, recarregar e reabastecer os prāṇas através das práticas. Quando os prāṇas estão suficientemente carregados, eles despertam.

Durante a execução de prāṇa-vidyā, o praticante experimenta o despertar dos prāṇas. Nos tornamos conscientes de cada um dos prāṇas, seus movimentos e atuação no corpo e na psique. Podemos observar a natureza dos diferentes prāṇas observando suas diferentes atuações. Através da experiência dos prāṇas a consciência é desperta. A sensação do prāṇa em uma área particular pode se tornar um meio para se experienciar a consciência nessa região. Assim como os prāṇas possuem funções densas e sutis, quanto mais profunda for sua realização mais sutil será a percepção da consciência. Quando a sua realização for intensa, o yogī pode guiar estas forças e transformar suas qualidades em concordância com sua vontade.


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